Hoje não vai dar, que está a chover
Arábia Saudita, esse país de deserto, dunas e camelos, um ou outro oásis. E mais um preconceito errado.
Há um par de dias, cerca das 2 da tarde, o céu escureceu, começou a chover e a trovejar. E por estes lados a coisa não se fica apenas por ameaços, quando chove, chove muito. De modo que optei por sair mais cedo do escritório, o percurso entre Meca e Jidá já é suficientemente desafiante só de partilhar a estrada com os condutores locais, se juntarmos chuva e condução nocturna, temos emoção garantida para um par de horas. E o gerador do escritório também abandona. O primeiro obstáculo é chegar seco ao carro. Ou menos ensopado, vá. O estacionamento está coberto por telas de sombreamento, e o lado do condutor fica precisamente sob o espaço entre telas, pelo que é para onde escorre a água e forma uma cascata. Juntemos a Lei de Murphy, o carro destranca por proximidade da chave, mas hoje não, tive de a procurar na mala, sob a cascata. Quando finalmente consegui entrar na viatura, já estava pronto para o concurso mister camisa molhada.
Seguiu-se um percurso de obstáculos de Meca a Jidá, água pela altura da porta, circular em contra-mão por zonas inundadas, evitar derrocadas e carros atascados. Correu bem.
Portanto, aqui chove. Há poucos dias por ano com precipitação, mas quando há é a sério. E de cada vez que acontece, parece que é uma surpresa. O país tem investido significativamente em projectos turísticos, entretenimento, desporto, aparentemente as infraestruturas não mereceram tanta atenção. Finalmente foi inaugurado o Metro de Riade, eventualmente hão de pensar num para outras cidades.
Fora dos centros urbanos o terreno é suficientemente permeável, rapidamente a água é absorvida. Já Riade e Jidá parecem Alcântara assim que chove durante mais de uma hora, a impermeabilização dos solos urbanos não foi acompanhada de uma rede de escoamento eficaz. Parece que foi na base do princípio “quando chover logo se vê, pode ser que este ano não chova, olha, afinal choveu, devíamos fazer alguma coisa, mas hoje não, que está a chover”.
Ou talvez lhes faça tanto sentido uma rede de drenagem de águas pluviais na Arábia como um limpa-neves no aeroporto de Luanda.
Pelo meu lado, optei por ter um SUV, nunca mais me apanham nesta terra com um carro rasteirinho. E agora tenho sempre um guarda-chuva no escritório.